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domingo, 11 de dezembro de 2011

Recado

- Damáris Lopes -



Devolva-me aos poucos,
as poucas coisas do além portão:

o vermelho do antúrio que me corava,
a canção do pássaro detetive, na varanda,

os cinqüenta por cento da manta que nos cobria
e também da minha atlética alegria.

Ah...e desta matemática tola,
por favor,
cem por cento da bolha
onde teu amor me envolvia.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Arco-íris das Dores

-Damáris Lopes -



Semblante ácido na corredeira do tempo
E um sorriso quadrado esvai-se perdido
Não sombras nem sobras de pensamento
Mas lembrança que ainda provoca gemido

Tenho hoje no ventre arraigadas poses
De um passado que não desfaz e perpassa
Inócuo, projeta gigante arco-íris das dores
Santa embriagues da essência estilhaçada.

Frutos da estação caem em profundo sono
Agora a colheita faz-se operação solitária
Da plantação a dois restou-me seu abono
À saudade que escraviza esta alma operária.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O amanhecer na varanda

- Damáris Lopes -

Livre a arte do amanhecer
no colo do dia chorão,
apetece minha fome
enraizada na paixão
da grama incomodada
pelo audacioso sereno
cedendo à amarela cilada,
do sol e seu aceno.

Abre o dia fervoso
e, da varanda preguiçosa
vem a vaidade fresca,
pela aragem das entranhas
da mata, morada sapiente,
em mansão lúdica e experta,
do cheiro capim-limão
ao antídoto que acoberta.

Fértil o chão que sustenta
a artimanha do universo,
feixe de leis exóticas e
tramas da mãe natureza.
Afinada orquestra em concerto
confunde física e nostalgia
à química da varanda preguiçosa
quando amanhece o dia.








Anatomia

- Damáris Lopes -


Está meu corpo ao teu corte exposto
E dissecado encontra-se ao revés
Na leiga ação do coração preposto
Em trato feito, te aceito como és.

Olho nu, assim, detectas minha miopia
E, da mão, a concha que nada segura
Descontrole de quem que te quer todo dia
Em pedaços que sonham tua captura.

A boca denuncia a falta dos limites
E o peito contraditório respira o ar do céu
Ansiedade do coração é tenro palpite

Das veias que brindam o sangue da raiz
Margeando artérias que me permitem réu
Atormentadas e fiéis, me querendo feliz.




terça-feira, 8 de novembro de 2011

Saudade é dor de amor

Saudade é dor de amor




- Damáris Lopes -


Perdura a angustia dos meus sonhos
Saudade intensa que em mim eclode
Dor maior inexiste à alma, suponho
Que cansada, suportar mais, não pode.

Nas densas nuvens te exploro e alcanço
Ainda que alturas revelem-nas vazias
É desejo que constrói e remoi manso
Impulsivo anseio de ver-te em meus dias.

Transgride o tempo como pode e permite
O viver do hoje na riqueza do passado.
Amor nascido feliz tem preço na morte

Se cala inerte e impotente ao palpite
Onde silencio brando substancia o brado:
Saudade é dor de amor, chorando pela sorte

Soneto da Petição

- Damáris Lopes -



Creias em meus tremores e rebeldias
Que resistem quando sinto-me cerceada
Não pela natureza maior dos ralos dias
Pela reação do corpo em abrigo ao nada.

Incapazes minhas células desoxigenadas
Se permanecem distantes ao abraço teu
Perdem o rumo e descobrem-se fadadas
Ao desencanto ilhado sob luar em breu.

Coração preterido é dado sem prumo
Busca os teus escutares como apelo
Anseia do teu toque, faminto consumo

Como rogo de quem suplica e murmura
Esgota incansável, o mundo, por teu zelo
Que há de resgatá-lo da penosa clausura.

Noite Mãe

- Damáris Lopes -


Olha a noite esfuziante
Transporta muda o silencio
Se uivo do lobo atento
Não rompe o movimento
Assim, minutos perpassam
Sob olhares disfarçados
E o choro ali contido
É calado e notívago.
A noite não vadia
Opera guardiã
Pra não deixar o mal
Se instalar na alma vã


Corre escura e poderosa
Com frenéticos olhares
De quem fotografa
Em posição dos ares
Corre escura e poderosa
Como ladra do agente dia
Que desdenha o rei sol
Mas se dobra à lua rainha.


Olha a noite esfuziante
Onde silencio oriundo
Transporta quieto os olhos
Do coração vagabundo.


Corre escura e poderosa
A noite que apaga o dia
Que acende vagalume
E faz parir a boemia.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Aperto






- Damáris Lopes



Eu, que atravessei montanhas
Pisei do asfalto tapetes persas
Nas pedras plumas dispersas
Pulei muros, escorreguei escuros
Caí sentada, enroscada por adornos
Puro abandono
E, fêmea virei loba de mim mesma


Chovi lágrimas, sorri carencias
Inerte assisti cancelas impotentes
Cadente pelo universo afora
Vim do nada, perdi nada
Consumi pedras do mundo
Absurdos minutos sem horas.


Distorci trovas em poemas clássicos
Atirei o amor em calibre de guerra
Então, do eu, casulo da penitencia
Proposto fui da fartura à abstinência
Em vida selada à demanda da sorte.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Marcia Tigani & Damáris Lopes


· LEGADO

· - Márcia Tigani -

 
O que restará de minhas mãos quando eu me for?
O que ficará da minha essência quando eu partir?
Na derradeira manhã em que viverei o amor,
alguma marca restará do meu sentir?

O que será do que plantei como idéia,
Se o que pensei à noite, o mar levou
E o clarão do dia é só matéria
A dissipar a angústia de quem amou?

Restarão suspensas as gotas de chuva?
Que das minhas mãos brotaram frias
A aplacar a ardência das feridas.

E esses poemas tolos, onde estou nua
Relíquias das minhas noites de vigília
Qual legado a contar de minhas vidas.

DO TEU LEGADO

- Damáris Lopes -

Há de regosijar-se a terra até por olho alheio
E dos campos de uva, sumo será sem fim
Não das dúvidas ao legado, que ora creio
Mas do árduo cultivo dispensado ao jardim.

Dos pensamentos mergulhados ao mar
Ressacas os graduarão penitentes ao céu
Sólidos hão de impedir a chuva de cessar
Terra molhada recompensa, será troféu.

Necessária tolice na poesia que desnuda
Rimada aos ouvidos de quem atento fica
É insone a noite que por ti revira, clama

Desvenda mistérios e todo teu corpo usa
Em amores pródigos de uma vida rica
Erros, acertos, legado maior de quem ama.














TRAVESSIA

    - Damáris Lopes -

Traz traço de pier
Foco d’água
Não pontuo se não passo
Vitória
É destino e posso
Não troco
Corda bamba
Travesso
Atravesso
Cheguei
E agora
Que faço com o avesso?


                                              

Reflexão

- Damáris Lopes -


Indeléveis são os rastros do peito errante
Em arranhões deixados pela farsante lida
Por ignorancia sem tento dos meus atos
Contrita penitencia busco eu pela vida.

Precioso momento ora desvendado
Humilde a lágrima requerida pelo erro
Meu destino agora recriado, goza o fado
Tocado nos campos das flores sem aterro.

Sob medida vem meu fardo destinado
Quando aceito as leis do bom preceito
Das dores tenho renascimento farto
E no universo novo, meu verso é eleito.

Renascer o homem em esperança
Torna patente o óbvio do caminho
O embarque desta trilha é dança solo
Se morre, tanto quanto, se nasce sozinho.

Veleiro

- Damáris Lopes -


Qual balanço perturba e nauseia
Um corpo que ao mar se lança
É a vida que usurpa e incendeia
Escaldante sol a sua semelhança.

Nuvens descem do celeste azul
Freqüência da bússola se perde
Coerente não é mais norte ou sul
Nem meu eu divisa minha verve.

Marés cheias, famintas e variáveis
Torturam ferozes a voz da prece
Veloz o vento benfeitor da vez
Forte ar que também carece.

Num sobe e desce sem fim
Ondas querem veleiro tragar
Batalha travada no sal, enfim
Vencerei eu, céu ou mar.

A correnteza do mar é artesã
Sua força e leis, objetiva
A vela exausta, figura vilã
Falha e me conduz à deriva.

Tomara que ao leme desta nau
Traduza eu, desígnios da navegação
Suporte meus medos, absorva degraus
Sublimize o naufrágio à salvação.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Rescisão


Toma a decisão que constrange o ato

Rumo ao alarde da pauta cordata

Era antes a cláusula do destrato, e, meu trato

Tarde, o prende à presente data.



O prumo desfaz as páginas num fórum

E molhados os olhos não miram a audiência

Estão nossos corpos sem quórum

Da alma e do espírito em penitencia.



Trama aguçada reverte a esperança

Como em beira de cais, prestes a acenar

Não é vitória, tão pouco liderança

É doida despedida, insólita de ar.



Há de findar como outras coisas tantas

Ambos capengas, náufragos sem mar

Não sou mais sua, e a hora já cansa

Sem mais vaidades, resta-nos assinar.

-Damáris Lopes -