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domingo, 25 de julho de 2010

"Nosso trato" Glória Salles e Replica de Damáris Lopes - "Assino nosso trato"

“Nosso trato” 

Fixamos um trato, meu coração e eu
Não nos lambuzarmos em palavras de mel
Que naufraguem sonhos, em pleno apogeu
num mar de ilações, onde o doce vira fel

Não pulsar ,desesperados por um querer incerto
Nem nas grades do desejo deixar-nos arrebatar
Conhecer nossos limites, ir no âmago do afeto
Desse elixir suave nunca mais nos embebedar

Não nos deixar levar nas asas de todo vento
Pois nadar nas ondas da loucura é tormento
E por mais que nos  custe ver na razão o viés

Não respirar emoções, cujo ar não nos furta
Pois sentimento qualquer, é feito coberta curta
“Quando a cabeça aquece, congela-nos os pés...”

- Glória Salles -





       (Réplica)
Assino Nosso Trato


Melado mel que flamba ao rubro caldo
Decanta meu eu a favor do turvo pacto
E o corpo bailarino que dirige o palco
Decreta ao amor duras cláusulas neste ato.


Cumpridor sou das veias do querer
Aceito o pulsar menor do universo
Ao sufocar desejos deterás teu ser
Provável assim, num amor submerso.


Sofrer diminuto não sobrepõe à regra
Avesso aventureiro afiança teu viver
Por fim, curvo-me quieto à lei do bem


Nosso trato finca rédeas a tua entrega

Terás a pena pelo amor que merecer
Melhor assim, que pulsar por ninguém.


- Damáris Lopes –





sexta-feira, 9 de julho de 2010

A Minha Estante


-Damáris Lopes-
(após ler "Minha Estante" de Naldo Velho)



O mundo está aqui, na minha estante
Não distante, na casa da outra rua
Só mudamos os relicários
Pois a madeira, forte guerreira
Empena os mesmos pesos
Outras tantas delicadezas
Que as prateleiras avalizam em gramas
Até o olhar de quem passa e ama
As coisas emolduradas
Roubadas de você
Seu sorriso, sobrancelha arcada
Zangada pelo dia curto
Seus surtos - sua digitação exímia
E um rebento assobio
Desafio da nova canção

O mundo está aqui...
Não deveria, é só uma estante
Mas retrata tanta vida
Que até o ranger da gaveta, solicita
– Pega meu livro, querida...

O mundo está aqui
E, mal vejo a madeira ordinária
Legado do dinheiro
Assumo a estante carregada
De palavras que lhe ungiam
Neste lugar predileto

E, neste seu canto seleto
O sono foi profundo
Você me esqueceu...

Construí outra estante
Agora, por um instante
Quem se perdeu – fui eu.
Me dei conta, a minha ainda está vazia.
Nem cristais, livros ou diplomas
(Se lá vivem, em mim não estão...)
Restam enfileirados sonhos
De toda nossa vida
Pois quando em frente passo
Vejo seu lábio arquivado
Por usocapião
- Pega meu livro, querida?


Pelo Pier





- Damáris Lopes -

Caminho estranho este meu
Tão sem nada adiante
Talvez afunde por tudo
Ou no nada, ao fundo
Talvez afunde
Por diamante.


O pier já existia
Eu que nem sabia
Lá fui colocada
Andei milhas
Esqueci estradas
Descalça e quieta
Procurei suas estacas
Em vão...
Sequer degraus



O pier é estreito


Frescura seria quintal
Certo é seguir em frente
Sem espelho
Não olhar pra trás
O lado é falho.
Sou andarilho
Num trilho capaz
Sobre a água
Sobrevida
Nada mais.