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terça-feira, 25 de março de 2014

Nos Campos dos Girassóis


                                                       
                                                         -  Damáris Lopes -



                                                       Meus extremos são pesares de olhares dourados
                                                       Num longo e louco campo de girassóis
                                                       Calcanhares apertados me desviam em seus polens
                                                       E a alergia desenfreada me pari apaixonada
                                                       Por flores, cores e cheiros.

                                                       Meus extremos são teimosos, irriquietos
                                                       Recatados,  dominadores, apassarinhadores
                                                       No vento ofensivo que retarda meu olfato
                                                       Desprepara as coroas pro amarelar do sol
                                                       E da praga de insetos faceiros.

                                                       Meus extremos se acanham na terra molhada
                                                       Onde apodrecem as pétalas caídas
                                                       Soterradas depois pelo esterco que aduba
                                                       E difusa a semente que fecunda sorridente
                                                       Mais e mais girassóis.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Mulher

Mulher

 - Damáris Lopes-  

Vôo no salto poroso
Não mais de cristal
Agora, cibernético, como pede o tempo.

Das minhas labirintites e deslizes
Sobram  anseios e lutas.
Virtuosas são as derrotas
Sangrentas, as vitórias
Desatinos desse tal coral feminino
 - Contralto ou soprano
(Tons que desafino)

Sou (e)namorada, amante
Recata, desvairada, perseverante
Persigo a vida assassinada nas esquinas
E a recupero em planejadas avenidas.

Às vezes sou bíceps de largos ombros
Às vezes, anemicamente, suplico colo
Às vezes, teço sonhos e escrevo poemas

Mas, do alto do meu salto,
Perfeitas são as manhãs
Entre maquiagens e dilemas
Que bom: acordo mulher!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Amanhã é Natal



- Damáris Lopes -

Amanhã vou arrumar a casa
Espanar autores da prateleira
Tirar marcas de dedos nas vidraças
E na pá de lixo,  juntar tudo que de lixo
produzi nestes 360 dias.
Porque mais cinco dias restam.
(Tive preguiça de catar antes)

Mas a faxina começa amanhã
Engraçado... à medida que ganho mais doze períodos
Tiro menos entulho daqui
Mas ele ainda existe
Resiste meio a reforma que não tem fim
E  busca da gaveta um bustiê de humildade
Com revestimento de ouro fundido
E a ânsiedade pela cinta da esperança.

Amanhã vou tropeçar em minhas boas ações
Hei de sorrir.
Subirei na baixa escada de alumínio e lá de muito alto desapegarei  velhas sopeiras
Espero que o próximo ano esteja mais leve , mais inteira
Com menos móveis para lixar
Mais quadros para colorir
Mais borboletas no meu jardim
E um novo lumiar para o luar de mim.

Amanhã vou agradecer
O dia da faxina
Refletir  manutenção.

Amanhã será feriado do meu coração
Não quero o despropósito comércio
Nem as faces  enrugadas nas ruas, sem visão.

Quero num frasco  detergente possante
Que me garanta a limpeza
Do cristal  com puro  suco matinal
Um suco verde de fé e sabedoria.

Quero brindar a reforma da minha sintonia
Amanhã é dia de faxina
Amanhã é  dia de Natal!




sexta-feira, 24 de maio de 2013

Passagem do Arco-Íris


-Damáris Lopes -


Desvairada a varanda
como olhos assistentes
de um arco-íris que ora,
ora sem terço, insistente.
No terço de uma hora,
sete tons invasivos,
evasivos sem demora,
deixam penitente a varanda,
isenta do colorido,
do colorido já outrora.

domingo, 24 de março de 2013

VIGIAI



-Damáris Lopes-


Vigiai...
O caminho incrédulo das cores
Das flores, dos espinhos
A ferrugem parida nas pedras mudas
A quentura das sopas descidas goela abaixo
As flâmulas estendidas nos quadris, vis

 O epitáfio do aqui jaz - perfeito, capaz
Todo piche grudado no pé, vingança do asfalto
A camisa de força sem botão
O alto índice de corrupção
A falsa fé.

A fraqueza da veias sanguíneas
que vermelham calamidades.

O preço da justiça vendida
A ingenuidade
Os honestos
Os sem alma
As batidas do coração

E, incessantemente, os políticos
Vigiai (ai!), vigiai(ai!), vigiai (ai!)...

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Retorno de Mim

- Damáris Lopes -

Retorno com as pálpebras mais inchadas
E, talvez, com um licor amargo nos dentes
No peito de luta de quem sonha com fadas
E por voluntária opção semeia sementes.

Retorno como quem esculpiu o desapego
E saltitou em pedras por libertar cristais
Com pés feridos por espinhos malévolos
Curados por flores que morrem jamais.

Retorno com joelhos esfolados pelos rogos
Em disfarces de esparadrapos alheios
Pelos olhos de mim que tanto espantaram
Coisas viradas, sobrepostas em meus seios.
Retorno ao pátio interno esbranquiçado
Onde vidraças exibem nítida claridade
Onde o aroma fértil me levanta, sacode
E aduba na mente a possível unidade.

Retorno ao piso em tímida proeza
Lustrando o mármore um tanto opaco
Mas baixada poeira, sob teto de telha
Espaireço na rede, retiro-me do cansaço.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Recado

- Damáris Lopes -


Devolva-me aos poucos,
as poucas coisas do além portão:

o vermelho do antúrio que me corava,
a canção do pássaro detetive, na varanda,

os cinqüenta por cento da manta que nos cobria
e também da minha atlética alegria.
Ah...e desta matemática tola,
por favor,
cem por cento da bolha
onde teu amor me envolvia.

Check-out da Paixão

-Damáris Lopes -

Dias acumulam poeiras deixadas pelo vento
Sem contento, viro e desviro páginas do livro
Irônico o último capítulo, não cede sua cena
Acena, como não fosse chegar seu instante.
Vem o sol e a noite desabriga meu pensamento
Certa e constante apenas a fase do luar
Então, retorna pedinte, e a noite seguinte
Me pari pedra bruta, sem lapidar.

Bravo coração, despedida ousou aplaudir
Fez check-out da paixão, sem crédito
Só da saudade não abriu mão.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Lembrança

Damáris Lopes & José Luiz Santos



Reconheço no gramado as pisadas de nós dois
Ao caminho do jardim, as sementes do depois
Das rosas, os espinhos que cutucam minha mão
E delas, colheita próxima exala cheiro e solidão.

O vaso do retorno compõe com água o aroma
Da flor escancarada, o desejo entra em coma.
Nem a lembrança dos teus olhos nos meus
Consegue apagar nítida imagem do adeus.

Fostes, reconheço, o meu melhor momento.
Contigo imaginei um novo tempo, recomeço
Para minha alma casada de andanças e perigos.

Porém, quando de ti mais eu precisava
Atiraste-me no vazio; folha que o vento leva
A um ponto distante, longe dos teus abraços.

Sob a garoa

- Damáris Lopes -



Fininhos são fios d’água sob os céus
E molham criativos a grama do quintal
Nos resquícios contornados do solado, atolam
Água, terra, mato amassado e teu pisar banal.

Contraídos meus olhos ali se afogam
Buscando na lama, reflexo de um rosto vil
Encharcados os passos me levam ao portão
De um amor latente que sem trovão, partiu.

Caia chuva delicada e, pálida mostra
O caminho que no solo tornou-se hostil
Ora, pinga no chão o cansaço das águas
Engrossadas com lágrimas de quem já sorriu.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Recado

- Damáris Lopes -



Devolva-me aos poucos,
as poucas coisas do além portão:

o vermelho do antúrio que me corava,
a canção do pássaro detetive, na varanda,

os cinqüenta por cento da manta que nos cobria
e também da minha atlética alegria.

Ah...e desta matemática tola,
por favor,
cem por cento da bolha
onde teu amor me envolvia.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Arco-íris das Dores

-Damáris Lopes -



Semblante ácido na corredeira do tempo
E um sorriso quadrado esvai-se perdido
Não sombras nem sobras de pensamento
Mas lembrança que ainda provoca gemido

Tenho hoje no ventre arraigadas poses
De um passado que não desfaz e perpassa
Inócuo, projeta gigante arco-íris das dores
Santa embriagues da essência estilhaçada.

Frutos da estação caem em profundo sono
Agora a colheita faz-se operação solitária
Da plantação a dois restou-me seu abono
À saudade que escraviza esta alma operária.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O amanhecer na varanda

- Damáris Lopes -

Livre a arte do amanhecer
no colo do dia chorão,
apetece minha fome
enraizada na paixão
da grama incomodada
pelo audacioso sereno
cedendo à amarela cilada,
do sol e seu aceno.

Abre o dia fervoso
e, da varanda preguiçosa
vem a vaidade fresca,
pela aragem das entranhas
da mata, morada sapiente,
em mansão lúdica e experta,
do cheiro capim-limão
ao antídoto que acoberta.

Fértil o chão que sustenta
a artimanha do universo,
feixe de leis exóticas e
tramas da mãe natureza.
Afinada orquestra em concerto
confunde física e nostalgia
à química da varanda preguiçosa
quando amanhece o dia.








Anatomia

- Damáris Lopes -


Está meu corpo ao teu corte exposto
E dissecado encontra-se ao revés
Na leiga ação do coração preposto
Em trato feito, te aceito como és.

Olho nu, assim, detectas minha miopia
E, da mão, a concha que nada segura
Descontrole de quem que te quer todo dia
Em pedaços que sonham tua captura.

A boca denuncia a falta dos limites
E o peito contraditório respira o ar do céu
Ansiedade do coração é tenro palpite

Das veias que brindam o sangue da raiz
Margeando artérias que me permitem réu
Atormentadas e fiéis, me querendo feliz.




terça-feira, 8 de novembro de 2011

Saudade é dor de amor

Saudade é dor de amor




- Damáris Lopes -


Perdura a angustia dos meus sonhos
Saudade intensa que em mim eclode
Dor maior inexiste à alma, suponho
Que cansada, suportar mais, não pode.

Nas densas nuvens te exploro e alcanço
Ainda que alturas revelem-nas vazias
É desejo que constrói e remoi manso
Impulsivo anseio de ver-te em meus dias.

Transgride o tempo como pode e permite
O viver do hoje na riqueza do passado.
Amor nascido feliz tem preço na morte

Se cala inerte e impotente ao palpite
Onde silencio brando substancia o brado:
Saudade é dor de amor, chorando pela sorte

Soneto da Petição

- Damáris Lopes -



Creias em meus tremores e rebeldias
Que resistem quando sinto-me cerceada
Não pela natureza maior dos ralos dias
Pela reação do corpo em abrigo ao nada.

Incapazes minhas células desoxigenadas
Se permanecem distantes ao abraço teu
Perdem o rumo e descobrem-se fadadas
Ao desencanto ilhado sob luar em breu.

Coração preterido é dado sem prumo
Busca os teus escutares como apelo
Anseia do teu toque, faminto consumo

Como rogo de quem suplica e murmura
Esgota incansável, o mundo, por teu zelo
Que há de resgatá-lo da penosa clausura.

Noite Mãe

- Damáris Lopes -


Olha a noite esfuziante
Transporta muda o silencio
Se uivo do lobo atento
Não rompe o movimento
Assim, minutos perpassam
Sob olhares disfarçados
E o choro ali contido
É calado e notívago.
A noite não vadia
Opera guardiã
Pra não deixar o mal
Se instalar na alma vã


Corre escura e poderosa
Com frenéticos olhares
De quem fotografa
Em posição dos ares
Corre escura e poderosa
Como ladra do agente dia
Que desdenha o rei sol
Mas se dobra à lua rainha.


Olha a noite esfuziante
Onde silencio oriundo
Transporta quieto os olhos
Do coração vagabundo.


Corre escura e poderosa
A noite que apaga o dia
Que acende vagalume
E faz parir a boemia.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Aperto






- Damáris Lopes



Eu, que atravessei montanhas
Pisei do asfalto tapetes persas
Nas pedras plumas dispersas
Pulei muros, escorreguei escuros
Caí sentada, enroscada por adornos
Puro abandono
E, fêmea virei loba de mim mesma


Chovi lágrimas, sorri carencias
Inerte assisti cancelas impotentes
Cadente pelo universo afora
Vim do nada, perdi nada
Consumi pedras do mundo
Absurdos minutos sem horas.


Distorci trovas em poemas clássicos
Atirei o amor em calibre de guerra
Então, do eu, casulo da penitencia
Proposto fui da fartura à abstinência
Em vida selada à demanda da sorte.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Marcia Tigani & Damáris Lopes


· LEGADO

· - Márcia Tigani -

 
O que restará de minhas mãos quando eu me for?
O que ficará da minha essência quando eu partir?
Na derradeira manhã em que viverei o amor,
alguma marca restará do meu sentir?

O que será do que plantei como idéia,
Se o que pensei à noite, o mar levou
E o clarão do dia é só matéria
A dissipar a angústia de quem amou?

Restarão suspensas as gotas de chuva?
Que das minhas mãos brotaram frias
A aplacar a ardência das feridas.

E esses poemas tolos, onde estou nua
Relíquias das minhas noites de vigília
Qual legado a contar de minhas vidas.

DO TEU LEGADO

- Damáris Lopes -

Há de regosijar-se a terra até por olho alheio
E dos campos de uva, sumo será sem fim
Não das dúvidas ao legado, que ora creio
Mas do árduo cultivo dispensado ao jardim.

Dos pensamentos mergulhados ao mar
Ressacas os graduarão penitentes ao céu
Sólidos hão de impedir a chuva de cessar
Terra molhada recompensa, será troféu.

Necessária tolice na poesia que desnuda
Rimada aos ouvidos de quem atento fica
É insone a noite que por ti revira, clama

Desvenda mistérios e todo teu corpo usa
Em amores pródigos de uma vida rica
Erros, acertos, legado maior de quem ama.














TRAVESSIA

    - Damáris Lopes -

Traz traço de pier
Foco d’água
Não pontuo se não passo
Vitória
É destino e posso
Não troco
Corda bamba
Travesso
Atravesso
Cheguei
E agora
Que faço com o avesso?


                                              

Reflexão

- Damáris Lopes -


Indeléveis são os rastros do peito errante
Em arranhões deixados pela farsante lida
Por ignorancia sem tento dos meus atos
Contrita penitencia busco eu pela vida.

Precioso momento ora desvendado
Humilde a lágrima requerida pelo erro
Meu destino agora recriado, goza o fado
Tocado nos campos das flores sem aterro.

Sob medida vem meu fardo destinado
Quando aceito as leis do bom preceito
Das dores tenho renascimento farto
E no universo novo, meu verso é eleito.

Renascer o homem em esperança
Torna patente o óbvio do caminho
O embarque desta trilha é dança solo
Se morre, tanto quanto, se nasce sozinho.

Veleiro

- Damáris Lopes -


Qual balanço perturba e nauseia
Um corpo que ao mar se lança
É a vida que usurpa e incendeia
Escaldante sol a sua semelhança.

Nuvens descem do celeste azul
Freqüência da bússola se perde
Coerente não é mais norte ou sul
Nem meu eu divisa minha verve.

Marés cheias, famintas e variáveis
Torturam ferozes a voz da prece
Veloz o vento benfeitor da vez
Forte ar que também carece.

Num sobe e desce sem fim
Ondas querem veleiro tragar
Batalha travada no sal, enfim
Vencerei eu, céu ou mar.

A correnteza do mar é artesã
Sua força e leis, objetiva
A vela exausta, figura vilã
Falha e me conduz à deriva.

Tomara que ao leme desta nau
Traduza eu, desígnios da navegação
Suporte meus medos, absorva degraus
Sublimize o naufrágio à salvação.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Rescisão


Toma a decisão que constrange o ato

Rumo ao alarde da pauta cordata

Era antes a cláusula do destrato, e, meu trato

Tarde, o prende à presente data.



O prumo desfaz as páginas num fórum

E molhados os olhos não miram a audiência

Estão nossos corpos sem quórum

Da alma e do espírito em penitencia.



Trama aguçada reverte a esperança

Como em beira de cais, prestes a acenar

Não é vitória, tão pouco liderança

É doida despedida, insólita de ar.



Há de findar como outras coisas tantas

Ambos capengas, náufragos sem mar

Não sou mais sua, e a hora já cansa

Sem mais vaidades, resta-nos assinar.

-Damáris Lopes -




sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Alforria




- Damáris Lopes -

Avesso à porta
estilo de moda
em costa nua.

Caminho do vento
estanco bom senso
que não segue à rua.

Na mala, sentada
decreto de minh'alma
não sou mais sua.

Performance arreada
encontro com nada
registro da fotografia

Minha alegoria segura
na mão alforriada.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tolice // Apenas



Tolice

Voce é uma pluma voando ao léu
e eu um tolo: vivo a sorrir
um sorriso bobo de esperança
sem nem mesmo desconfiar
onde será seu pouso...

A paixão é burra
e vive abraçada às suposições,
quando se dá conta do engano
se perde na busca do reconhecimento
e, encontra o anonimato por companhia.

- Marçal Filho -
 


Apenas

Tolice é qual mesmice do meu cair,
perde-se em queda mansa...
nem graça tanta do pouso insonso
me repousa.

Aí, certo estás: burra é a paixão
já que te cega e errado calcula
o lugar do meu pouco amparo.
Assim, vejo sem prumo o vôo
inseguro de tuas suposições.

Sou como pluma ao léu
sob irônico céu do pensar
e, caio com pena, por apenas
não sentires que só
em ti, anseio pousar.

- Damáris Lopes -

Muito honrada com a participação do grande poeta mineiro Marçal Filho



domingo, 25 de julho de 2010

"Nosso trato" Glória Salles e Replica de Damáris Lopes - "Assino nosso trato"

“Nosso trato” 

Fixamos um trato, meu coração e eu
Não nos lambuzarmos em palavras de mel
Que naufraguem sonhos, em pleno apogeu
num mar de ilações, onde o doce vira fel

Não pulsar ,desesperados por um querer incerto
Nem nas grades do desejo deixar-nos arrebatar
Conhecer nossos limites, ir no âmago do afeto
Desse elixir suave nunca mais nos embebedar

Não nos deixar levar nas asas de todo vento
Pois nadar nas ondas da loucura é tormento
E por mais que nos  custe ver na razão o viés

Não respirar emoções, cujo ar não nos furta
Pois sentimento qualquer, é feito coberta curta
“Quando a cabeça aquece, congela-nos os pés...”

- Glória Salles -





       (Réplica)
Assino Nosso Trato


Melado mel que flamba ao rubro caldo
Decanta meu eu a favor do turvo pacto
E o corpo bailarino que dirige o palco
Decreta ao amor duras cláusulas neste ato.


Cumpridor sou das veias do querer
Aceito o pulsar menor do universo
Ao sufocar desejos deterás teu ser
Provável assim, num amor submerso.


Sofrer diminuto não sobrepõe à regra
Avesso aventureiro afiança teu viver
Por fim, curvo-me quieto à lei do bem


Nosso trato finca rédeas a tua entrega

Terás a pena pelo amor que merecer
Melhor assim, que pulsar por ninguém.


- Damáris Lopes –





sexta-feira, 9 de julho de 2010

A Minha Estante


-Damáris Lopes-
(após ler "Minha Estante" de Naldo Velho)



O mundo está aqui, na minha estante
Não distante, na casa da outra rua
Só mudamos os relicários
Pois a madeira, forte guerreira
Empena os mesmos pesos
Outras tantas delicadezas
Que as prateleiras avalizam em gramas
Até o olhar de quem passa e ama
As coisas emolduradas
Roubadas de você
Seu sorriso, sobrancelha arcada
Zangada pelo dia curto
Seus surtos - sua digitação exímia
E um rebento assobio
Desafio da nova canção

O mundo está aqui...
Não deveria, é só uma estante
Mas retrata tanta vida
Que até o ranger da gaveta, solicita
– Pega meu livro, querida...

O mundo está aqui
E, mal vejo a madeira ordinária
Legado do dinheiro
Assumo a estante carregada
De palavras que lhe ungiam
Neste lugar predileto

E, neste seu canto seleto
O sono foi profundo
Você me esqueceu...

Construí outra estante
Agora, por um instante
Quem se perdeu – fui eu.
Me dei conta, a minha ainda está vazia.
Nem cristais, livros ou diplomas
(Se lá vivem, em mim não estão...)
Restam enfileirados sonhos
De toda nossa vida
Pois quando em frente passo
Vejo seu lábio arquivado
Por usocapião
- Pega meu livro, querida?


Pelo Pier





- Damáris Lopes -

Caminho estranho este meu
Tão sem nada adiante
Talvez afunde por tudo
Ou no nada, ao fundo
Talvez afunde
Por diamante.


O pier já existia
Eu que nem sabia
Lá fui colocada
Andei milhas
Esqueci estradas
Descalça e quieta
Procurei suas estacas
Em vão...
Sequer degraus



O pier é estreito


Frescura seria quintal
Certo é seguir em frente
Sem espelho
Não olhar pra trás
O lado é falho.
Sou andarilho
Num trilho capaz
Sobre a água
Sobrevida
Nada mais.