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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Aperto






- Damáris Lopes



Eu, que atravessei montanhas
Pisei do asfalto tapetes persas
Nas pedras plumas dispersas
Pulei muros, escorreguei escuros
Caí sentada, enroscada por adornos
Puro abandono
E, fêmea virei loba de mim mesma


Chovi lágrimas, sorri carencias
Inerte assisti cancelas impotentes
Cadente pelo universo afora
Vim do nada, perdi nada
Consumi pedras do mundo
Absurdos minutos sem horas.


Distorci trovas em poemas clássicos
Atirei o amor em calibre de guerra
Então, do eu, casulo da penitencia
Proposto fui da fartura à abstinência
Em vida selada à demanda da sorte.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Marcia Tigani & Damáris Lopes


· LEGADO

· - Márcia Tigani -

 
O que restará de minhas mãos quando eu me for?
O que ficará da minha essência quando eu partir?
Na derradeira manhã em que viverei o amor,
alguma marca restará do meu sentir?

O que será do que plantei como idéia,
Se o que pensei à noite, o mar levou
E o clarão do dia é só matéria
A dissipar a angústia de quem amou?

Restarão suspensas as gotas de chuva?
Que das minhas mãos brotaram frias
A aplacar a ardência das feridas.

E esses poemas tolos, onde estou nua
Relíquias das minhas noites de vigília
Qual legado a contar de minhas vidas.

DO TEU LEGADO

- Damáris Lopes -

Há de regosijar-se a terra até por olho alheio
E dos campos de uva, sumo será sem fim
Não das dúvidas ao legado, que ora creio
Mas do árduo cultivo dispensado ao jardim.

Dos pensamentos mergulhados ao mar
Ressacas os graduarão penitentes ao céu
Sólidos hão de impedir a chuva de cessar
Terra molhada recompensa, será troféu.

Necessária tolice na poesia que desnuda
Rimada aos ouvidos de quem atento fica
É insone a noite que por ti revira, clama

Desvenda mistérios e todo teu corpo usa
Em amores pródigos de uma vida rica
Erros, acertos, legado maior de quem ama.














TRAVESSIA

    - Damáris Lopes -

Traz traço de pier
Foco d’água
Não pontuo se não passo
Vitória
É destino e posso
Não troco
Corda bamba
Travesso
Atravesso
Cheguei
E agora
Que faço com o avesso?


                                              

Reflexão

- Damáris Lopes -


Indeléveis são os rastros do peito errante
Em arranhões deixados pela farsante lida
Por ignorancia sem tento dos meus atos
Contrita penitencia busco eu pela vida.

Precioso momento ora desvendado
Humilde a lágrima requerida pelo erro
Meu destino agora recriado, goza o fado
Tocado nos campos das flores sem aterro.

Sob medida vem meu fardo destinado
Quando aceito as leis do bom preceito
Das dores tenho renascimento farto
E no universo novo, meu verso é eleito.

Renascer o homem em esperança
Torna patente o óbvio do caminho
O embarque desta trilha é dança solo
Se morre, tanto quanto, se nasce sozinho.

Veleiro

- Damáris Lopes -


Qual balanço perturba e nauseia
Um corpo que ao mar se lança
É a vida que usurpa e incendeia
Escaldante sol a sua semelhança.

Nuvens descem do celeste azul
Freqüência da bússola se perde
Coerente não é mais norte ou sul
Nem meu eu divisa minha verve.

Marés cheias, famintas e variáveis
Torturam ferozes a voz da prece
Veloz o vento benfeitor da vez
Forte ar que também carece.

Num sobe e desce sem fim
Ondas querem veleiro tragar
Batalha travada no sal, enfim
Vencerei eu, céu ou mar.

A correnteza do mar é artesã
Sua força e leis, objetiva
A vela exausta, figura vilã
Falha e me conduz à deriva.

Tomara que ao leme desta nau
Traduza eu, desígnios da navegação
Suporte meus medos, absorva degraus
Sublimize o naufrágio à salvação.